sábado, 30 de junho de 2007

"Você sabe quem eu sou?"

Morador do bairro Jardim Santo Eduardo, X estava em uma casa lotérica no dia 3 de abril de 2006, por volta das 15h, para pagar contas e fazer uma "fezinha" na quina. Estava acompanhado de seu irmão de 15 anos, quando uma viatura da Polícia Militar estacionou em frente à lotérica e os dois policiais começaram a encarar Edílson. Por não dever nada, ele também passou a encarar os PMs. Nesse momento, a viatura saiu e voltou de marcha ré, os policiais passaram a encarar novamente. Desta vez, para não causar problemas com os "gambés", ele ignorou e deu as costas para os mesmos. Nesse instante, os policiais entraram na lotérica e o abordaram sem dizer uma palavra. Então questionou o porquê da abordagem e os policiais não responderam. Um dos PMs pegou seu boné e o jogou no chão. O policial pediu para que ele se retirasse do estabelecimento. Negro e integrante do grupo de rap Dinastia Urbana, ele deu risada e disse que já tinha sido revistado e que não via motivos para ter que sair de lá. Foi quando o "gambé" alterou a voz dizendo "Você sabe quem eu sou?". X. respondeu "sim, você é um funcionário público". O policial então citou alguns artigos da lei e deu voz de prisão por desacato a autoridade. Na delegacia do Jardim São Marcos - 1º DP foi registrada ocorrência de resistência a prisão e não de desacato.

X. denunciou os policiais no 36º BPMM e aguarda o julgamento do processo. Em declaração ao Portal do PSTU, ele relatou por que decidiu denunciar os PMs:

"Através do hip hop tenho evoluído no pensamento e na atitude. Antes de denunciar, pedi conselho para um conhecido que é integrante do Dinastia Urbana e militante do PSTU. Fui aconselhado a não deixar passar e denunciar, mesmo tendo chegado à conclusão de que isso não vai resolver o problema do racismo e da violência policial. Mas é uma forma de ter postura, de mostrar a eles que as coisas não são do jeito que eles querem, que tem pessoas dispostas a se defender dos ataques desses cachorrinhos do sistema capitalista.

Sei que denunciando coloco minha vida em risco e até a minha família, mas como escutei desse amigo:
'se você não tem algo pelo qual daria a vida, então não tem motivo pra continuar vivendo'. Por isso escolhi enfrentar o sistema de pé, e não passar o resto da minha vida de joelhos esperando a minha vez de ser humilhado e agradecendo a Deus por ter me livrado das garras dos perversos. Chega. É preciso se defender e reivindicar, quer eles gostem ou não. Enquanto a tampa do caixão não fechar, minha voz estará no ar, como diz o Facção Central."

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