sexta-feira, 11 de maio de 2007

Para sempre NERUDA

É com tamanha satisfação que posto aqui no Blog um poema do maior poeta de vanguarda que o mundo conheceu. Neruda nasceu em 1904 em Parral, no Chile e durante toda sua vida lutou por uma América Latina mais justa, tombou no combate, assim que o golpe militar se anunciou no Chile em 1973.


América insurrecta (1800)

Nossa terra, vasta terra, soledades,

povoou-se de rumores, braços, bocas.

Uma calada sílaba ia ardendo,

congregando a rosa clandestina,

até as campinas trepidarem

recobertas de metais e galopes.

Foi dura a verdade como um arado.

Rompeu a terra, estabeleceu o desejo,

mergulhou suas propagandas germinais

e nasceu na secreta primavera.

Foi silenciada a sua flor, foi rechaçada

sua reunião de luz, foi combatido

o fermento coletivo, o beijo

das bandeiras escondidas,

porém surgiu derrubando as paredes,

apartando os cárceres do chão.

O povo escuro foi a sua taça,

recebeu a substância rechaçada,

propagando-a aos limites marítimos,

repisando-a em almofarizes indomáveis.

E saiu com as páginas feridas

e com a primavera do caminho.

Hora de ontem, hora do meio-dia,

hora de hoje outra vez, hora esperada

entre o minuto morto e o que nasce

na eriçada idade da mentira.

Pátria, nasceste dos lenhadores,

de filhos sem batizar, de carpinteiros,

dos que deram qual uma ave estranha

uma gota de sangue voador

e hoje duramente nascerás de novo,

lá onde o traidor e o carcereiro

te acreditam submersa para sempre.

Hoje do povo nascerás como outrora.

Hoje sairás do carvão e do orvalho.

Hoje chegarás a sacudir as portas

com mãos maltratadas, com pedaços

de alma sobrevivente, com racimos

de olhares que a morte não extinguiu,

com ferramentas agrestes

armadas entre farrapos.

Poema extraído do livro “Canto Geral” aonde todos os poemas são dedicados a denunciar a exploração e conquista do continente americano.

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